Biografia
uma compositora de mpb com um coração sufi
Sim, ouvir a minha música ainda gera um grande impacto nas pessoas e elas me perguntam como foi que eu iniciei esse caminho de criar Música Popular Brasileira pensando em consciência, meditação e cura; como surgiu essa idéia visionária vinte anos antes de se popularizarem urbanamente no Brasil gêneros como música de rezo ou hinários ou mesmo antes da musicoterapia ser considerada como a medicina do futuro?
o mantra pode dar samba?
Como foi que eu consegui criar uma ponte entre nossas raízes brasileiras junto com aquilo que já existia nos anos 90 que eram tecladistas New Age, alguns artistas do chamado “mantra ocidentalizado” e pequenos grupos de música árabe ou indiana mantidos por imigrantes em solo brasileiro? Como foi que eu pude dar um passo além da proposta pop da sociedade alternativa indo mais adiante da linguagem do Rock e introduzindo um estudo aprofundado sobre os princípios, estilos e técnicas das mais antigas raízes da música mística da humanidade como o clássico indiano ou o Sufi? Finalmente – e o mais importante – como eu penso que todas essas questões podem impactar positivamente a vida de todos que sentem a necessidade de uma renovação da arte – especialmente da música brasileira – que seja feita para despertar a inteligência do coração e para servir a nossa evolução interior, tanto individual quanto sistêmica?
Sarau como terapia
Para entender tudo isso, eu preciso falar sobre as minha origens e a minha formação. Comecei a estudar música e dança ainda na infância por iniciativa do meu pai, o “Velho Pietro”, um dos mais consagrados dançarinos tradicionais da noite de São Paulo, com quem durante muitos anos formei uma parceria de sucesso em shows e cursos de danças de salão latino-americanas por todo o Brasil. Naquela época, a noite era o manancial de grandes casas e clubes de Choro e de MPB como os famosos Jogral e o João Sebastião Bar, e minha formação musical foi totalmente raíz pois tive o privilégio de ter os maiores nomes da MPB frequentando a minha casa. Durante toda a minha adolescência, fiz aulas regulares com astros como o Papete (Toquinho, Sadao Watanabe, Sade), o maestro Benedito Costa (o iniciador da música orquestrada no sertanejo brasileiro), Toninho Neto (conjunto Talismã de Adoniran Barbosa), os integrantes do Trio Mocotó (Jorge Benjor), Muri Costa (Caetano Veloso), o sambista Jorge Costa entre outros grandes que frequentavam minha casa por influência de meu pai.
Foi desse contato com grandes artistas populares da dança e da música e nos nos saraus que varavam a madrugada que eu pude começar a observar o poder de transformação que a música e a dança tem na vida das pessoas e dos grupos. Foi então que eu despertei para essa idéia da arte como uma terapia espontânea e para seu imenso poder de cura; desde muito jovem eu já podia perceber os imensos benefícios que eu levava para a vida dos meus alunos através de um simples curso de dança de salão ou aulas de violão, onde eles podiam se auto-conhecer, se descobrir e expressar suas emoções e vencer seus medos – e é por isso que eu nunca deixei de ser professora em nenhuma fase da minha vida: para mim, arte, transmissão e cura são três coisas indissociáveis. Alguns anos depois, eu trouxe toda essa experiência para minha tese de Mestrado na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo com a tese “Os Cantores da Noite”, com entrevistas com os músicos com os quais tive a oportunidade de aprender desde a infância.
Miragens do Oriente
Entre lembranças de vidas passadas e experiências mágicas de desdobramento astral que me faziam contestar duramente a natureza da “realidade”, desde a adolescência comecei a praticar Yoga como auto-didata através de livros e fui percebendo o quanto tudo aquilo podia acrescentar ao que eu já sabia sobre dança, corpo, respiração e movimento. Nos livros eu lia que existia uma “música transcendental” no Oriente, mas nada podia saber de concreto sobre aquilo, até um dia que o Papete trouxe um LP de Flamenco das suas viagens com o Toquinho e bem, desde então meu ouvido nunca mais foi o mesmo. Da obsessão por ouvir Flamenco, saltei para a música árabe que conheci numa feira de imigrantes em São Paulo, e minha rotina se transformou em aprender Dança do Ventre ouvindo aquelas fitas cassetes pirata que a gente encontrava na Rua 25 de Março. Sobre Mantras, minha primeira experiência foi escutar Om Padme Hum em um quiosque que vendia roupas indianas e quando eu pedi para comprar a fita cassete, descobri que essa seria a minha única referência para ouvir mantras durante muito tempo, pois sou de um tempo em que não havia Cd e muito menos internet… e como bailarina, a Dança do Ventre despertou uma profunda transformação em todo o meu ser por se tratar de algo diferente de tudo o que eu já conhecia: uma dança onde temos que “olhar para dentro” e dançar com as vísceras, e onde a performance externa adquire uma outra conotação dando espaço para o exercício da consciência de mente-corpo. Foi assim que redescobri o Oriente dentro de mim.
Nada Yoga e Shattari Sufi
São inúmeras lembranças que eu compartilho nos meus cursos de formação de terapeutas onde apresento várias metodologias que eu criei dentro da exclusiva Terapia Dimensional. Foi nesse processo todo de mergulhar em diferentes vertentes da arte de cura do Oriente que pude modular a minha própria criatividade na busca do Sufismo e do Canto Hindustani que se tornaram a base da minha maneira única de cantar e de compor. Com o passar dos anos e depois de muita busca e muitas viagens de estudo e de pesquisa e depois de passagens por outras escolas Sufis, pude finalmente acompanhar por mais de dez anos os ensinamentos do grande Mestre Sufi Adnan Sarhan, nascido em Bagdá e criador da Sufi Foundation of America, que foi um grande divisor de águas na minha vida pos ali eu pude aprender meditação ativa de verdade com técnicas de música e dança do Shattari Sufi tão antigas que remontam a origens da Mesopotâmia. Paralelamente, pude me aprofundar no Hatha-Yoga cursando a Pós-Graduação das Faculdades Metropolitanas Unidas na época em que seguiam a linha do Yoga Científico de Swami Kuvalayananda que eu admiro pelo seu teor de conexão Oriente-Ocidente. Em 2021, iniciei mais uma Pós-Graduação quando fui aceita pelo mais renomado instituto da Índia, o Nada-Centre, que ao final do curso me dedicou um prêmio pelas mãos do seu fundador, o Dr. T.V. Sairam, chamado de “o pai da musicoterapia na Índia” e considerado como um dos 200 intelectuais mais influentes do mundo. Desde então, tenho sido conferencista anual convidada pela Indian Music Therapy Association onde tenho falado sobre temas como “O que é meditação ativa” e “Comparações entre a musicalidade Ocidental e a Oriental”.
Assista Dr. T.V.Sairam falando sobre o trabalho de Ana Rita Simonka
Religiosidade mineira e mística popular
Por parte de avó, tias e mãe de uma imensa família, herdei a mineiridade e o mineirês nas vozes da infância que me ensinaram a rezar o terço e a resguardar total silêncio – o Vipasana dos dias da Paixão. Minha primeira lembrança de fervor místico, daqueles que fazem literalmente sair do corpo e voar em espírito: eu criança seguindo procissão com velas, Reizado, Congado e Cavalhada na cidade de Passos em Minas Gerais. Eu tenho que amar a literatura e a música mineiras, não tem como: é o sotaque que me contava histórias antes de dormir; na criatividade de imaginar fantasias, apareceu a compositora e mesmo antes de saber ler eu já fazia versos. As melodias atonais dos Congados, os Cantos Gregorianos e os tambores de Minas já são uma grande revolução quando estão unidos: é dessa união espontânea do rezo popular que surge o conceito de unir os universos tonal e modal e a polirritmia que desperta no jazz mineiro do Clube da Esquina e Milton Nascimento como a sua expressão maior. É assim que a minha música é barroca nos temas e nos arranjos, as cores – ragas – das escalas orientais entram como sussurros dentro das Igrejas para a oração e a devoção, e o improviso sempre encontra seu espaço no coração pois ele liberta a mente da forma pré-estabelecida: nessa libertação da mente, o Samadhi se aproxima, o vislumbre do Paraíso faz presença, o alimento celestial de Aleijadinho encontra o caminho do coração, e a música toma ares de transubstanciação.
Violão ou Tampura? Bossa Nova ou Raga e Maqam?
Como multi-instrumentista, eu toco violão, tampura, viola mineira, percussão e piloto muito bem um teclado sintetizador – mas o meu instrumento de paixão é o violão e com ele estudei choro, violão clássico e a bossa-nova que foram as minhas principais escolas. Quando iniciei a compor, eu já tinha uma grande experiência tocando João Gilberto, Baden Powell, João Bosco e Toninho Horta, esse último com quem tive a honra de estudar diretamente. Eu precisava de tudo isso para criar uma nova concepção harmônica para o meu violão – e foi através do jazz que eu consegui encontrar novos caminhos para minhas harmonizações inéditas usando as escalas Orientais – Ragas e Maqam, obtendo assim uma atmosfera única dentro da MPB e da World Music. Pode acontecer de eu ficar dias ou semanas buscando intuitivamente uma nova harmonização para escalas Turcas ou Persas, e para não perder a atmosfera ou a energia original de um Raga Bharavi, Kafi ou Bimpalasi. Mesmo as escalas mais “estranhas” ao ouvido Ocidental como Raga Todi ou Mian-Ki-Malhar podem inspirar as minhas criações – mas minha idéia é que não deixa nunca de ser MPB, “um banquinho e um violão”. Sempre antes de colocar o instrumental num novo arranjo, eu sempre desenho a harmonia no violão: a partir daí, todos os timbres podem aparecer numa fusão barroca de Sitar, Santur, Tablas, Ney, Frame-Drum, Derbaque, Guitarras, Synths, Pandeiro, Vaso, Tamborim, Djembê, Sax, tudo pode e tudo é permitido na minha alquimia musical: Sama Sufi em linguagem afro-brasileira.
Cantar projetando a voz ou cantar para vibrar os Chakras?
Quando me iniciei no canto indiano e árabe, confesso que a sensação era a de reaprender música do zero: a voz mântrica é um segredo a ser trabalhado como um artesanato, uma vida monástica, a voz como meditação. Não pense em projetar para fora: concentre-se em sentir dentro de você onde está pulsando para fazer dessa reverberação a ativação de um padrão de energia, uma sinergia de Yoga, um exercício de corpo-mente. Microtons e overtones que não existem na música Ocidental encontram seu espaço nessa vibração e a voz se torna mística, inebriante, intoxicante: a mesma intoxicação mística que eu encontro na poesia que me inspira a escrever: Tagore, Rumi, Kabir, Hakim Sanay, Attar, Kayam, Coríntios, Salmos, Koans do Zen. Meu canto se torna um canto de êxtase e pela primeira vez a MPB pode acolher a energia do Kirtan e do Qawalli. É revelador, inspirador e transformador que a Sílaba Om possa estar agora vibrando entre nós.
Destaques e parcerias
Como artista independente, tive várias parcerias importantes sendo licenciada pela MCD, AZULMUSIC, LUAMUSIC e TRATORE; tive minha música em coletâneas de destaque internacional como Buddha Lounge, Caras Zen, Putumayo e Sahara Lounge. Minha música foi trilha sonora de programas da Globo como Alternativa Saúde e de novelas como Clone e Malhação. Como terapeuta e conferencista de Yoga, de musicoterapia e de meditação ativa, lecionei nos maiores cursos de formação de professores e terapeutas do Brasil e participei de todos os eventos de destaque nessa área por todo o país em SPAS e clínicas, Congressos, Seminários e Semanas de Yoga e saúde alternativa. Como produtora musical, sou uma artesã dedicada que acompanha todas as fases da criação, desde a captação, mixagem, arranjos, e também faço a direção artística e a produção dos meus vídeo-clips.
Leia a entrevista completa de Ana Rita Simonka na Revista “Ritmos e Melodias”
contrate
Ana Rita Simonka
Apresentações em estilo word music / new age num repertório de cura e atmosfera mística.
Shows, retiros, sound healing e projetos especiais.